Wiki source code of ITASAT-1

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7 = ITASAT-1 =
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9 [[image:ITASAT- 1.jpg||alt="ITASAT1.jpg"]]
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11 |=Tamanho|6U
12 |=Mass (kg)|8
13 |=Lançamento|3 de dezembro 2018
14 |**Veículo de Lançamento**|Falcon 9 Block 5
15 |**Local do Lançamento**|[[Base da Força Aérea de Vandenberg>>url:https://pt.wikipedia.org/wiki/Base_da_For%C3%A7a_A%C3%A9rea_de_Vandenberg]], [[Lompoc>>url:https://pt.wikipedia.org/wiki/Lompoc]], [[Califórnia>>url:https://pt.wikipedia.org/wiki/Calif%C3%B3rnia]]
16 |**Status**|Descomissionado
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23 **Contents**
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35 Lançado em 2018, o **ITASAT-1** foi o primeiro nanossatélite desenvolvido pelo time do CEI.
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39 [[Time do ITASAT-1>>image:equipe itasat_2.jpg||alt="EquipeITASAT1" data-xwiki-image-style-alignment="center"]]
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41 = Objetivo da Missão =
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43 O Projeto visa capacitar estudantes envolvidos no projeto, que poderão utilizar os conhecimentos adquiridos em vários setores da sociedade brasileira, o que poderá potencializar outros desenvolvimentos correlacionados no setor espacial, qualificar no espaço os componentes e os equipamentos que serão utilizados no satélite; vai testar concepções e arquiteturas de projetos utilizados no desenvolvimento dos subsistemas que compõem o satélite.
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45 {{embed url="https://youtu.be/ZpM_bj5WbEA?si=FX5YueBBSethi4RS" width="500" reference="ITASAT-1.WebHome" ratio="16:9"/}}
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47
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49 == Capacidades da Missão ==
50
51 O ITASat-1 está equipado com um transponder do Sistema de Coleta de Dados (DCS), um receptor GPS (Sistema de Posicionamento Global), uma câmera denominada **Cam** e o **DCX-2** (Experimento de Comunicação-2).
52
53 O transponder DCS foi desenvolvido em uma versão miniaturizada, de modo a se adequar às restrições de tamanho e consumo de energia de um CubeSat. Por ser compatível com o atual Sistema Brasileiro de Coleta de Dados, esse transponder pode coletar dados de mais de **900 Plataformas de Coleta de Dados (PCDs)** espalhadas pelo território brasileiro e pelas áreas costeiras, oferecendo informações sobre qualidade da água, níveis oceânicos, composição do ar e migração animal.
54
55 A **Cam** é uma câmera comercial **NanoCam C1U**, que opera na faixa visível do espectro, tendo como principal objetivo validar o desempenho do sistema de controle de atitude.
56
57 O **DCX-2** foi proposto pela comunidade brasileira de radioamadores como um experimento para prover um canal de comunicação com rádios amadores ao redor do mundo. O experimento possui três modos de operação — //Beacon//, //Transponder// e //Store and Forward// — permitindo a transmissão de diferentes tipos de mensagens nas faixas de UHF/VHF (Ultra High Frequency e Very High Frequency, respectivamente) para diversos receptores.
58
59 == Especificações de Desempenho ==
60
61 A câmera **Cam** possui um sensor colorido de 3 megapixels com lente de 35 mm, oferecendo resolução espacial de **60 m por pixel** a 650 km de altitude. O sensor CMOS colorido no formato 4:3 fornece imagens de **2048 × 1536 pixels** em padrão RGB Bayer de 10 bits.
62
63 O **ITASat-1** mantém uma órbita circular **heliossíncrona** a 575 km de altitude e inclinação de **98°**, com hora local do nó descendente (**LTDN**) às **10h30**.
64
65 == Espaçonave e Componentes de Hardware ==
66
67 O **ITASat-1** possui arquitetura **CubeSat 6U**, com **massa de 5,2 kg**. O barramento do CubeSat 6U inclui dois **OBCs** (computadores de bordo): um dedicado ao subsistema de tratamento de dados de bordo (**OBDH**) e outro ao subsistema de determinação e controle de atitude (**ADCS**).
68
69 O **OBDH** utiliza um computador comercial de alto desempenho baseado em **ARM Cortex-M3**, executando um sistema operacional embarcado de tempo real (**FreeRTOS**).
70 O computador do **ADCS** é baseado em um **ARM7 MCU**, que se conecta diretamente aos sensores (sensores solares, giroscópio e magnetômetro) e atua sobre os atuadores (magnetotorqueadores e rodas de reação).
71
72 A espaçonave inclui também os subsistemas de **Telemetria e Telecomando (TMTC)**, **Estrutural e Térmico (STS)** e de **Energia e Suprimento de Potência (EPS)**.
73
74 Painéis solares estão instalados em cinco faces do CubeSat, gerando **6 a 7 W** de potência no total, enquanto a sexta face abriga a câmera. A energia é armazenada em baterias de íons de lítio.
75
76 = Desenvolvimento do ITASAT-1 =
77
78 O ITASat-1 é o primeiro microssatélite universitário e tecnológico do Brasil, financiado pela Agência Espacial Brasileira (AEB) no âmbito do Programa de Desenvolvimento e Lançamento de Satélites Tecnológicos de Pequeno Porte.
79 Seu desenvolvimento e operação representam uma importante oportunidade de formação e capacitação de estudantes brasileiros em tecnologia espacial, além de permitir o teste em órbita de novos componentes e tecnologias para futuras missões nacionais.
80
81 O projeto conta com coordenação técnica do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e coordenação acadêmica do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) — ambos localizados em São José dos Campos (SP). O ITA é responsável pelo projeto, construção, testes e operação do ITASat-1.
82
83 Outras universidades participantes:
84
85 * Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP)
86 * Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
87 * Universidade Estadual de Londrina (UEL)
88 * Universidade de Brasília (UnB)
89 * Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
90 * Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FEG-UNESP)
91 * Technische Universität Berlin (TUB), Alemanha — com o experimento ISL e intercâmbio de estudantes.
92
93 O projeto ITASat teve origem em 2005, com o objetivo de treinar e formar estudantes por meio do desenvolvimento de um produto espacial. O projeto visa motivar alunos de diferentes áreas a trabalhar de forma multidisciplinar, desenvolvendo competências tanto nas universidades quanto na indústria espacial brasileira.
94
95 Durante os anos, o projeto passou por diversas mudanças — desde um microssatélite de 100 kg até a atual configuração de CubeSat 6U, projetada, montada e testada com sucesso.
96
97 O lançamento ocorreu em dezembro de 2018, e desde então o ITASat vem sendo rastreado e operado pela equipe de controle em solo.
98
99 == Bus ==
100
101 Desenvolvido como um CubeSat 6U, o ITASat foi projetado para servir como plataforma para futuras missões. Os principais aspectos considerados foram:
102
103 * Ênfase em Engenharia de Sistemas e nas etapas de Montagem, Integração e Testes (AIT)
104 * Uso de equipamentos COTS (Commercial-Off-The-Shelf)
105 * Modularidade em hardware e software
106 * Desenvolvimento de placas de interface elétrica e mecânica
107 * Capacidade de operação do satélite.
108
109 O foco em Engenharia de Sistemas, AIT, desenvolvimento de software e atividades de Verificação e Validação (V&V) permitiu concluir o CubeSat em dois anos. Para cumprir esse prazo, a maior parte dos subsistemas utilizou soluções COTS, especificadas de diferentes fornecedores, exigindo grande esforço da equipe para garantir compatibilidade entre todos os componentes.
110
111 O barramento 6U é composto pelos subsistemas convencionais de uma plataforma espacial, com destaque para dois OBCs — um dedicado ao OBDH e outro ao ADCS.
112
113 === STS (Subsistema Estrutural e Térmico) ===
114
115 A estrutura interna do CubeSat reserva **2U para cargas úteis** e **4U para a plataforma**. O controle térmico é **passivo**.
116
117 === EPS (Subsistema de Energia e Potência) ===
118
119 Baseado em uma solução COTS, o EPS fornece **40 Wh / 2600 mAh** de autonomia com baterias de íons de lítio, linhas de potência reguladas (5 V e 3,3 V) e não reguladas (tensão da bateria – até 16,8 V).
120 Painéis solares fixos em cinco faces utilizam **células de tripla junção** com eficiência de 28%, gerando **6 a 7 W** em média na órbita do ITASat.
121
122 === OBDH (On-Board Data Handling) ===
123
124 Computador ARM-Cortex M3 executando FreeRTOS, com:
125
126 * MCU de 32 bits, baixo consumo
127 * 256 kB de EEPROM
128 * 4 MB de flash e 2 MB de SRAM
129 * Proteção SEU por EDAC em FPGA e proteção SEL
130 * MicroSD até 2 GB
131 * Interfaces GPIO, I2C, SPI, CAN e UART
132 * Testes de vibração, vácuo térmico e radiação (TID @ 20 krad, SEE @ 60 MeV)
133
134 O software embarcado foi **totalmente desenvolvido pela equipe**, em arquitetura modular por camadas, permitindo trabalho colaborativo e integração de bibliotecas e drivers externos.
135
136 === ADCS (Attitude Determination and Control System) ===
137
138 Controlador baseado em **ARM7 MCU**, conectado aos sensores (solar, giroscópio, magnetômetro) e atuadores (magnetotorqueadores e rodas de reação). Implementa três modos de controle de atitude:
139
140 1. Controle **B-dot** para desaceleração (//detumbling//);
141 1. Controle **magnético**, alinhando o satélite ao campo magnético terrestre;
142 1. Controle **três eixos**, combinando rodas de reação e magnetotorqueadores.
143
144 === TMTC (Telemetria e Telecomando) ===
145
146 Canal de subida (**uplink**) em **UHF**, taxa de 1200 bit/s, modulação AFSK.
147 Dois canais de descida (**downlink**):
148
149 * **VHF**, 1200–9600 bit/s, modulação BPSK, 22 dBm
150 * **S-band**, até 144 kbit/s, modulação BPSK, potência ajustável 27–33 dBm
151
152 As rádios UHF/VHF estão integradas em uma única placa, utilizadas para comando, controle e transmissão de dados de carga útil. O transmissor em S-band é dedicado a dados científicos de maior volume.
153
154 == Payloads ==
155
156 === Transponder DCS (Data Collection System) ===
157
158 Desenvolvido pelo **INPE/CRN** (Natal), com tecnologia atualizada e miniaturização para CubeSat. Compatível com o **Sistema Brasileiro de Coleta de Dados**, o transponder permite ao ITASat (5,2 kg) desempenhar a mesma função dos satélites **SCD-1** e **SCD-2** (115 e 117 kg, respectivamente).
159 Coleta dados de mais de **900 PCDs**, com informações sobre qualidade da água, níveis fluviais, ar e migração animal.
160 Mais informações: [[http:~~/~~/sinda.crn.inpe.br/PCD/SITE/novo/site/index.php>>url:http://sinda.crn.inpe.br/PCD/SITE/novo/site/index.php]]
161
162 === Receptor GPS ===
163
164 Desenvolvido pela **UFRN** e pelo **IAE/DCTA**, tendo voado anteriormente em um foguete **VSB-30**. Para integração ao padrão CubeSat, foram criadas interfaces mecânicas e elétricas específicas.
165
166 [[Photo of the GPS receiver>>image:ITASat1_GPSreceiver.jpeg||alt="ITASAT-1 GPS Receiver" data-xwiki-image-style-alignment="center"]]
167
168 === Câmera (Cam) ===
169
170 Câmera comercial de observação na faixa visível ([[GomSpace NanoCam C1U>>url:https://gomspace.com/shop/payloads/earth-observation.aspx]]), sensor colorido de 3 MP com lente de 35 mm e desempenho de **60 m/pixel** a 650 km de altitude.
171
172 [[Photo of the COTS camera>>image:ITASat1_Cam.jpeg||data-xwiki-image-style-alignment="center"]]
173
174 === DCX-2 (Experimento de Comunicação-2) ===
175
176 Proposto pela **comunidade de radioamadores**, com três modos:
177
178 1. **Beacon** – transmissão periódica de até 10 mensagens armazenadas;
179 1. **Transponder** – retransmissão em VHF de sinais recebidos em UHF;
180 1. **Store and Forward** – armazenamento e posterior retransmissão de mensagens UHF em VHF, permitindo comunicação entre diferentes regiões do globo.
181
182 == Lançamento ==
183
184 O **ITASat-1** foi lançado em **3 de dezembro de 2018**, às **18:34:05 GMT**, durante a missão **SSO-A SmallSat Express** da **Spaceflight**, a bordo de um foguete **Falcon-9 Block 5** da **SpaceX**, a partir da **Base Aérea de Vandenberg (Califórnia)**.
185
186 A missão transportou **64 cargas úteis**, sendo o maior lançamento compartilhado de satélites já realizado por um veículo norte-americano até então. O primeiro estágio do Falcon-9 foi reutilizado pela terceira vez e pousou com sucesso na plataforma **“Just Read the Instructions”**, no Oceano Pacífico.
187
188 **Órbita:** heliossíncrona circular, **575 km de altitude**, **98° de inclinação**, **LTDN 10h30**.
189
190 = Lições Aprendidas =
191
192 Durante o ciclo de vida do projeto, muitas lições foram aprendidas no processo de desenvolvimento, integração, teste e operação do ITASat. Algumas dessas lições são apresentadas nesta seção (Ref. 1).
193
194 == Abordagem de Desenvolvimento ==
195
196 No ITASat, durante a fase de desenvolvimento, foi implementada e utilizada uma abordagem incremental. Essa abordagem auxiliou o processo de desenvolvimento e permitiu a verificação após cada incremento, aumentando a confiabilidade do projeto. Essa abordagem incremental foi aplicada tanto no desenvolvimento de software quanto na montagem da plataforma.
197
198 Outro aspecto importante foi a abordagem modular de desenvolvimento, implementada juntamente com a incremental. Isso permitiu isolar funções de forma independente, acelerando o desenvolvimento e possibilitando que as equipes trabalhassem em paralelo. A abordagem modular também facilitou a substituição de partes, bem como o desenvolvimento e teste “software-in-the-loop” e “hardware-in-the-loop”.
199
200 A abordagem incremental e modular também foi aplicada na arquitetura de software. A arquitetura foi definida em camadas desde o início do desenvolvimento. Graças a essa definição, o software foi dividido em pequenas partes e camadas, tornando-o mais fácil de gerenciar. Diferentes equipes desenvolveram a camada de aplicação, e códigos herdados de fornecedores puderam ser adaptados às necessidades do projeto.
201 Por exemplo, o código DCX-2 foi desenvolvido por um radioamador e integrado ao nosso software em poucas horas, funcionando perfeitamente no CubeSat. O ponto-chave dessa abordagem foi a definição clara das interfaces de software.
202
203 == Interfaces Elétricas de Comunicação ==
204
205 No ITASat, o principal barramento de comunicação entre o computador de bordo e todos os equipamentos e cargas úteis é baseado em I2C. Essa escolha mostrou que o I2C possui limitações elétricas e lógicas que podem causar sobrecarga no barramento, resultando em travamentos.
206
207 Mesmo seguindo todas as recomendações quanto ao comprimento dos cabos e localização dos resistores de pull-up, a equipe enfrentou vários problemas de recepção de sinal devido a variações de capacitância nas linhas. Como consequência, foram necessárias modificações elétricas. No entanto, o principal problema foi a sobrecarga e o travamento do barramento. O ADCS não pôde ser completamente testado, pois, no modo de controle de 3 eixos, ocorre uma sobrecarga no barramento que interrompe o fluxo de comunicação I2C. Consequentemente, o computador de bordo reinicia o sistema devido a uma falha na linha I2C. A função de reinício foi implementada como um mecanismo FDIR (Failure Detection, Identification and Recovery).
208
209 == Acesso Tardio ao CubeSat ==
210
211 O ITASat possui apenas um conector que concentra as funções de carga da bateria, depuração e ABF (Apply Before Flight). Não havia provisionamento para upload tardio de software, o que gerou restrições após a integração final.
212
213 Outro problema foi a localização do conector. No ITASat, os conectores foram posicionados nos painéis solares, sem priorizar a desmontagem. Assim, cada desmontagem exigia o manuseio dos painéis solares, com risco de danos.
214
215 Durante o desenvolvimento, a equipe tinha poucas informações sobre o dispensador do CubeSat, sendo necessário fazer suposições que nem sempre foram as melhores opções para o projeto. Recomenda-se estudar todas as possibilidades para reduzir esses riscos.
216
217 == Seleção e Aquisição de Componentes ==
218
219 No momento da especificação e aquisição das partes do satélite, nem todos os requisitos estavam bem definidos e nem todas as características dos componentes eram conhecidas. Isso causou restrições posteriores durante o desenvolvimento.
220
221 Por exemplo, no ITASat o “sensor solar” consistia apenas em um fotodiodo com campo de visão (FOV) de 60 graus, o que limitou o uso dos dados gerados no sistema ADCS, criando zonas cegas onde a posição do Sol não podia ser determinada — reduzindo o desempenho do algoritmo de determinação e controle de atitude.
222
223 O projeto ITASat também sofreu atrasos significativos devido a problemas na cadeia de fornecedores e à burocracia do processo de compras — algo que quase sempre ocorre.
224
225 Outro ponto relevante na aquisição é o processo de aceitação dos componentes. Um procedimento bem definido para aceitação de partes deve ser implementado no projeto.
226
227 == Comunicação ==
228
229 Um dos maiores desafios em qualquer projeto é a comunicação — entre os desenvolvedores, com os fornecedores e com os desenvolvedores das cargas úteis.
230
231 No ITASat, o contato próximo e a comunicação frequente com os desenvolvedores das cargas úteis permitiram implementar e integrar os experimentos com baixo retrabalho.
232 Um bom canal de comunicação também foi estabelecido com a maioria dos fornecedores, mostrando que criar uma boa rede é fundamental para o sucesso da missão.
233
234 == Processo de Montagem, Integração e Testes (AIT) ==
235
236 Durante a montagem e integração do ITASat — especialmente no que se refere ao dispensador — percebeu-se que seria muito mais fácil e seguro se mecanismos e dispositivos adequados para o manuseio do satélite tivessem sido implementados. A falta de informações sobre o dispensador nas fases iniciais levou a não considerar certas restrições, o que resultou em falha no primeiro “fit check”.
237
238 Alguns desenvolvimentos internos, devido à falta de tempo e recursos, não foram exaustivamente testados, o que causou pequenas não conformidades após os testes de aceitação. Essas não conformidades tiveram de ser gerenciadas para que o satélite ficasse pronto para o voo.
239
240 Antes do AIT do Modelo Protoflight, foi elaborada uma sequência detalhada de procedimentos, validada durante a montagem e testada no Modelo de Engenharia.
241
242 As especificações e comprimentos dos cabos foram verificados usando o Modelo de Engenharia e peças impressas em 3D, auxiliando o roteamento interno. Cada cabo possuía ficha técnica e etiquetas específicas para evitar trocas.
243
244 == Uso de Dois Computadores de Bordo ==
245
246 Uma das características do ITASat é possuir dois computadores de bordo: um para o gerenciamento dos dados da missão e outro dedicado ao sistema de controle de atitude. Essa abordagem trouxe desafios de sincronização, uma vez que cada computador atua como mestre da comunicação em determinados momentos. Entretanto, proporcionou maior flexibilidade para testes e adaptações da plataforma, permitindo executar testes de forma independente.
247
248 == Importância da Engenharia de Sistemas ==
249
250 Segundo o //NASA Systems Engineering Handbook//, “o objetivo da engenharia de sistemas é garantir que o sistema seja projetado, construído e operado de forma a cumprir sua finalidade da maneira mais econômica possível, considerando desempenho, custo, cronograma e risco.”
251
252 Um dos propósitos da engenharia de sistemas é antecipar requisitos e analisar soluções em todas as fases do projeto. Embora esforços tenham sido aplicados nessa área, a equipe precisou aprender a metodologia ao longo do desenvolvimento, o que resultou em falta de atenção em alguns aspectos e excesso em outros.
253 Por exemplo, houve grande dedicação aos requisitos e modelagem do sistema, mas pouca observação durante a operação e pós-integração.
254
255 Outro exemplo foi a falta de informações sobre o envelope interno do dispensador nas fases iniciais, resultando em reprovação no primeiro “fit check”.
256
257 Nas análises de missão, as simulações de geração de energia e desempenho da bateria não se confirmaram em operação. Como resultado, houve dificuldade em carregar as baterias a níveis seguros, ocasionando reinicializações mais frequentes que o esperado. Recomenda-se incluir margens adicionais nessas análises.
258
259 **Resultados positivos da aplicação de Engenharia de Sistemas:**
260
261 * Após algumas revisões, a configuração foi consolidada e nenhuma mudança foi feita após a CDR (Critical Design Review).
262 * O uso de SysML/UML para documentar requisitos e casos de uso reduziu a burocracia e facilitou a rastreabilidade.
263 * Foi implementada uma árvore documental e um sistema de gerenciamento de configuração.
264 * O software foi documentado e controlado via repositório tipo GitHub, dispensando controle manual em papel.
265 * Os procedimentos de AIT foram documentados e executados por mais de uma pessoa, reduzindo a margem de erro.
266
267 == Cronograma e Riscos ==
268
269 Desde o início até o modelo PFM (Proto Flight Model), o projeto foi desenvolvido em dois anos. No entanto, alguns componentes foram adquiridos muito cedo, aumentando o risco de incompatibilidades — decisão tomada para mitigar atrasos, o que se mostrou importante devido às demoras nas aquisições.
270
271 No ITASat, foi realizada uma análise de risco simplificada, sendo os principais riscos a ausência de peças sobressalentes e a disponibilidade de recursos humanos — este último foi mitigado com sucesso.
272
273 Outro aspecto importante foi a vida útil do satélite em solo (//shelf life//), que acabou sendo maior que o previsto devido a atrasos e oportunidades de lançamento. Os procedimentos de carga de bateria precisaram ser conduzidos ao longo do tempo, mas ficou evidente que tais processos devem ser planejados ainda nas fases iniciais do projeto.
274
275 == Operação da Missão ==
276
277 A estação principal do ITASat está localizada no ITA, em São José dos Campos. Durante a operação, verificou-se que a coordenação com outras estações melhorou significativamente o desempenho e, em alguns casos, foi essencial. No início da operação, a estação principal estava fora de serviço devido a problemas técnicos, e o suporte de radioamadores e estações parceiras foi fundamental — mostrando a importância de estações de backup e peças sobressalentes.
278
279 O sinal //beacon// do ITASat é configurado por software em solo para ser transmitido em intervalos fixos, sem possibilidade de ajuste em órbita. Em diversas situações, observou-se que a capacidade de alterar esse intervalo poderia fornecer mais dados quando necessário e economizar energia em outros momentos.
280
281 Durante o desenvolvimento, pretendia-se implementar um registro histórico (//history log//), mas por diversas razões isso não foi possível. O ITASat transmite apenas informações do //beacon//, resultando em lacunas temporais sem dados do comportamento do satélite, o que dificulta a análise de desempenho.
282
283 == A Equipe ==
284
285 A equipe é o coração de qualquer projeto — são pessoas que desenvolvem soluções para pessoas. No ITASat, a equipe foi um dos principais pontos fortes.
286
287 O grupo do ITASat operava em dois escritórios próximos, o que acelerou o desenvolvimento e melhorou a qualidade do trabalho. Essa proximidade facilitou a comunicação e o entendimento mútuo das tarefas, resultando em uma equipe coesa e ciente do impacto de cada atividade no projeto.
288
289 Houve uma perceptível melhora após a incorporação de profissionais com experiência prévia em projetos aeroespaciais. A combinação de estudantes e profissionais experientes resultou em uma equipe mais robusta.
290
291 == Resumo ==
292
293 Apesar de todos os desafios enfrentados desde o início do projeto, em 2005, até o lançamento em 2018 — incluindo a mudança para a abordagem CubeSat em 2013 —, o ITASat foi altamente bem-sucedido em seu principal objetivo: **formar recursos humanos para projetos espaciais e desenvolver uma plataforma para futuras missões**.
294
295 Muitos ex-alunos do ITASat hoje trabalham no setor espacial ou em áreas correlatas, utilizando o conhecimento adquirido como diferencial competitivo. O projeto ajudou o ITA a estabelecer o curso de Engenharia Aeroespacial e fortalecer a competência do Brasil nessa área.
296
297 O ITASat também demonstrou que um satélite 6U pode realizar missões anteriormente restritas a satélites maiores, como coleta de dados em múltiplas plataformas terrestres.
298 O projeto provou ainda que CubeSats não são brinquedos ou dispositivos “plug and play” — podem ser tão complexos quanto satélites maiores, dependendo da missão e das soluções adotadas.
299
300 O ITA optou por desenvolver uma plataforma mais complexa — expressa pelos dois computadores de bordo — e pagou o “preço” dessa decisão nas dificuldades com o barramento I2C. Porém, foi justamente ao superar essas dificuldades que os alunos cresceram tecnicamente.
301
302 A expertise desenvolvida com o design dessa plataforma 6U permitiu ao ITA propor uma missão conjunta Brasil–EUA, chamada **SPORT**, para investigar a ionosfera. Nessa nova missão, todas as lições aprendidas com o ITASat estão sendo aplicadas, resultando em uma plataforma mais robusta.
303
304 As lições aprendidas englobam tanto o que foi bem executado quanto o que foi aprimorado — e incluem ferramentas e metodologias, como a **Engenharia de Sistemas**, que se tornaram referência para os futuros projetos do laboratório.
305
306 = References =
307
308 1) Lidia Hissae Shibuya Sato, Luis Eduardo Vergueiro Loures da Costa, Jonas Bianchini Fulindi, Helio André dos Santos, Linélcio dos Santos Paula, Emerson Henrique Silva de Oliveira, Jéssica Garcia de Azevedo, Breno Aparecido Crucioli, Denis Guilgim Vieira, Valdemir Carrara, Ana Carolina di Iorio Jeronymo, Rafael Barbosa Januzi, Daniel Hideaki Makita, Willer Gomes dos Santos, Pedro Kukulka de Albuquerque, Maria de Fátima Mattiello-Francisco, "The ITASAT – The Lessons Learned from the Mission Concept to the Operation," Proceedings of the 33rd Annual AIAA/USU Conference on Small Satellites, August 3-8, 2019, Logan, UT, USA, SSC19-WKI-01, URL: [[https:~~/~~/digitalcommons.usu.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=4350&context=smallsat>>url:https://digitalcommons.usu.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=4350&context=smallsat]]
309
310 [[2)>>url:https://www.eoportal.org/satellite-missions/itasat-1#footback2%29]] Lidia Hissae Shibuya Sato, Osamu Saotome, Christina Timm, David Fernandes, Wilson Yamaguti, "ITASAT-1: Brazilian university microsatellite for payload test and validation in Low Earth Orbit," 8th IAA (International Academy of Astronautics) Symposium on Small Satellites for Earth Observation, Berlin, Germany, April 4-8, 2011, URL: [[http:~~/~~/media.dlr.de:8080/erez4/erez?cmd=get&src=os
311 /IAA/archiv8/Presentations/IAA-B8-0601_v2-1.pdf>>url:http://media.dlr.de:8080/erez4/erez?cmd=get&src=os/IAA/archiv8/Presentations/IAA-B8-0601_v2-1.pdf]]
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313 [[3)>>url:https://www.eoportal.org/satellite-missions/itasat-1#footback3%29]] Valdemir Carrar, Rafael Barbosa Januzi, Daniel Hideaki Makita, Luis Felipe de Paula Santos, Lidia Shibuya Sato, "The ITASat CubeSat Development and Design," Journal of Aerospace Technology and Management, Vol.9, No 2, pp.147-156, São José dos Campos, Brazil, April/June 2017, URL: [[http:~~/~~/www.scielo.br/pdf/jatm/v9n2/2175-9146-jatm-09-02-0147.pdf>>url:http://www.scielo.br/pdf/jatm/v9n2/2175-9146-jatm-09-02-0147.pdf]]
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318 [[5)>>url:https://www.eoportal.org/satellite-missions/itasat-1#footback5%29]] Stephen Clark, "Spaceflight preps for first launch of unique orbiting satellite deployers," Spaceflight Now, 23 August 2018, URL: [[https:~~/~~/spaceflightnow.com/2018/08/23
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